
Por muito tempo, dentro da Medicina, acreditou-se que Obesidade tratava-se apenas de um fator de risco para outras doenças, podendo-se reduzir a um ganho de peso causado pelo consumo excessivo de calorias. Isso refletia em um aumento do IMC. Nos últimos anos houve um avanço importante nas ciências, nas neurociências e na compreensão de que a Obesidade é de fato uma doença, causada por múltiplos fatores e não apenas “porque a pessoa comeu demais”.
Também já entendemos um conceito importante: na doença Obesidade há mecanismos neuroendócrinos que levam a pessoa a comer mais calorias. Há uma famosa frase propagada por um dos grandes estudiosos do tema na atualidade Dr. Lee M. Kaplan que diz: as pessoas não são obesas porque comem demais, elas comem demais porque são obesas (tradução livre).
Por esses conceitos iniciais e simples já podemos compreender que o corpo da pessoa com Obesidade funciona de forma “diferente”, o que leva a uma dificuldade de controle da ingestão de calorias. Há uma grande influência da fatores genéticos, hábitos de vida, crenças pessoais e o ambiente em que vivemos.
Nos dias de hoje é muito simples ter acesso a comidas de alta densidade energética, com grandes quantidades de açúcares e gorduras. Com um simples clique no celular estamos a alguns minutos de refeições altamente calóricas. Uma grande parte das pessoas têm rotinas aceleradas, com pouco tempo livre para exercícios físicos, planejamento alimentar, para cultivar autocuidado e hobbies.
O ser humano tornou-se mais sedentário com o passar dos anos. Passamos horas sentados, caminhamos pouco. Em muitos municípios brasileiros, há poucos espaços seguros para prática de atividades físicas, altos índices de violência e pouco incentivo do Estado para que as pessoas se mantenham saudáveis.
A partir dessa perspectiva, compreendemos que a obesidade não pode ser vista apenas como uma consequência de escolhas individuais, mas sim como uma condição de origem multifatorial, que envolve genética, neurobiologia, ambiente e contexto social. O cuidado, portanto, deve ser integral, sem reducionismos ou julgamentos, reconhecendo os obstáculos que as pessoas enfrentam diariamente em um ambiente que favorece o sedentarismo e o consumo de alimentos ultraprocessados.
Tratar obesidade significa ampliar o olhar: oferecer suporte médico adequado, propor mudanças possíveis na rotina, incentivar a atividade física, o autocuidado e, sobretudo, compreender que se trata de uma doença crônica, que exige acompanhamento contínuo e individualizado.
Bibliografia sugerida
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). (2022). Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2022. Disponível em: https://abeso.org.br
Kaplan, L. M. (2021). Obesity as a disease: Pathophysiology and clinical management. Endocrine Reviews, 42(1), 1–14.
World Health Organization (WHO). (2022). Obesity and overweight. Disponível em: https://www.who.int
Mechanick, J. I., Hurley, D. L., Garvey, W. T. (2017). Adiposity-based chronic disease as a new diagnostic term: The American Association of Clinical Endocrinologists and American College of Endocrinology position statement. Endocrine Practice, 23(3), 372–378.