Todo o processo de afirmação de gênero envolve uma complexidade que vai além dos hormônios em si e de eventuais procedimentos cirúrgicos. O corpo é um território onde estão envolvidas expectativas e crenças pessoais, bem como pressões sociais. Diante de todos esse elementos, a alimentação pode ser torno espaço de conflito e até de sofrimento.
Há muitas pessoas trans que vivem com a exigência de alcançar um corpo considerado adequado para padrões cisnormativos. Seja por pressão estética, desejos e expectativas pessoais e até por outros motivos, como aceitação geral da sociedade e até maior empregabilidade. Isso pode levar a uma relação disfuncional com a moda e maior risco de distúrbios alimentares.
Também devemos lembrar que o uso de hormônios para afirmação de gênero podem influenciar na composição corporal. O que pode trazer mudanças positivas, mas também gerar alterações que podem não corresponder ao que pessoa deseja e intensificar questões e angústias em relação a própria imagem corporal.
Cabe aos profissionais de saúde compreenderam que a alimentação, nesse contexto, vai além de mera questão nutricional e atravessa a identidade, a autoestima e a sensação de pertencimento daquele indivíduo. O cuidado inclusivo e integral deve envolver escuta sem julgamentos.
Muito mais que orientar dietas ou tratamentos, trata-se de criar um espaço seguro para o cuidado com alimentação, com respeito às individualidades e sensibilidade com os processos de afirmação de gênero.
Bibliografia sugerida
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